domingo, 4 de julho de 2010

O estranhamento em B.Brecht

Para Brecht o teatro e a forma de representação ocidental buscavam criar uma ilusão no espectador e o fato de o teatro tradicional chinês seguir justamente em sentido contrário foi o que o inspirou a teorizar o que chamou de estranhamento (ou o distanciamento), uma característica comum no teatro Chinês.

A principal questão acerca do estranhamento é que os atores não se refugiam na chamada “quarta parede”, criada justamente para dar vigor à idéia de ilusão que existe no teatro ocidental. No teatro Chinês o objetivo não é criar a ilusão de que os personagens são reais, “os atores chineses diferem de seus colegas ocidentais naquilo que é “obviamente reproduzido por um narrador (ZUOLIN Pág 02)”, que o ator não é exigido a “se transformar-se completamente em sua personagem”, nem “entrar num estado completo de transe”. São atores e não faz parte de seu intento “encarnar o personagem” como dizemos no ocidente. Para o teatro chinês isso não é necessário visto que os atores obedecem a uma forma diferente de lógica. Brecht “observa que a Ópera de Pequim exibe aquilo que ele chama o efeito de estranhamento, utilizando-o habilmente. Ele destaca que o palco do teatro chinês “não tem uma quarta parede”, o que o distinguia da tradição teatral européia da época, que buscava a ilusão da vida cotidiana” (ZUOLIN Pág 02).

Em “Pequeno Organon para o teatro” Brecht aponta uma importante característica para o estranhamento: a diversão. Pare ele o objetivo de toda apresentação é divertir. A diversão para Brecht é “a função mais nobre que atribuímos ao teatro” (BRECHT Pág127). Esta idéia ajuda a compreender o estranhamento na medida em que a diversão liberta a atuação teatral de algumas amarras tais como “compromisso com realidade”. Neste mesmo texto ele define a base de toda a teoria do estranhamento “em momento algum deve o ator transformar-se completamente na sua personagem”.

A peça de Brecth por exemplo, “Mãe Coragem e seus filhos”, é uma critica à guerra onde o tema recai sobre uma situação histórica e as conseqüências deste tema para a humanidade. Também critica a igreja "Não é uma guerra qualquer: é uma guerra muito especial, em que se luta pela defesa da fé. É uma guerra que Deus vê com agrado!". Mas o que chama atenção na peça é justamente o estranhamento presente na peça, "Brecht denuncia o sentido mercenário da guerra, a guerra como cotidiano. É o dinheiro que faz Coragem perder os filhos" (PEIXOTO, 1991, p. 192). Nesta peça Brecht usa o verbo na terceira pessoa e mantém o tom impessoal, épico, que nos leva a pensar sobre estas questões abordadas sem, no entanto, forçar as emoções, características que nos levam ao estranhamento.


Referências:

BRECHT, Bertold, Pequeno Órganon para o teatro
Brecht e a teoria do estranhamento
ZUOLIN, Huang, Um acréscimo ao texto de Brecht ““o efeito de estranhamento na interpretação do teatro chinês”
Notas D'Ator/educador© Acesso: 20-Jun-2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário