terça-feira, 20 de abril de 2010

Marco Civil na Internet Você pode -e deve- participar


A internet é um vasto território, com infinitas possibilidades. Neste espaço virtual podemos conversar com amigos do outro lado do mundo, ler jornais, assistir programas de TV, fazer compras e até arrumar casamento. Entretanto, é crescente também os perigos aos quais estamos sujeitos, afinal, a internet no Brasil não conta com uma legislação específica para zelar por nossa segurança. No cyberespaço não temos como nos defender legalmente de pessoas com más intenções, que agem através de redes sociais como o Orkut por exemplo, golpes, clonagem de cartões de crédito; um lado nefasto que faz a internet ser vista e temida como "uma terra sem lei" por muitas pessoas. Mas até mesmo para os mais tecnofóbicos esta realidade está para mudar. Já está sendo desenvolvido um processo colaborativo de discussão e formulação de um Marco Civil na internet brasileira, ou seja, estão sendo criadas de forma aberta e colaborativa as leis que regulamentarão a internet no país.

O que mais chama a atenção do internauta é justamente a forma colaborativa com que o marco Civil está sendo criado, fugindo dos meios tradicionais e caindo direto em um dos aspectos mais importantes da internet, a possibilidade de se criar em colaboração, de forma democrática, onde é comum a criação de textos e programas colaborativos. Temos como exemplo deste formato a Wikipédia, uma enciclopédia criada, mantida e constantemente atualizada pelos visitantes da página. Inicialmente vista com desconfiança, a Wikipédia é hoje uma das ferramentas mais utilizadas pelos estudantes em pesquisas escolares, e mesmo as universidades já vêm reconhecendo a eficácia deste sistema, passando a aceitá-la como referência e a propor trabalhos neste formato. Em tudo que leve o termo wiki, qualquer pessoa pode colaborar, o conhecimento não possui um "dono", é propriedade de todos e todos podem participar de sua construção. E é justamente este pé no "wiki" que faz o Marco civil ser tão especial.

Na elaboração do marco civil, a qualquer momento é possível acompanhar os comentários da população de forma aberta e sem censura, e por isso mesmo o processo está sujeito a todo tipo de críticas, como a do Sr Cleuton Sampaio de Melo Jr. "O Brasil é um estado democrático e não uma ditadura, que precise censurar seus cidadãos. Considero extremamente preocupante a própria iniciativa de criação desta lei. Parece que estamos nos aproximando perigosamente da China". Entretanto, no próprio canal há a resposta direta ao participante "Esta Lei não tem o propósito de regulamentar o uso da Internet, mas de garantir a continuidade da liberdade existente nela". O blog Cultura Digital, canal direto entre a criação da lei e os participantes de sua elaboração afirma que "A iniciativa parte do pressuposto que a participação popular pode enriquecer o processo de construção de nossas leis. O conhecimento coletivo e voluntário pode – e deve – ser usado para aperfeiçoar a elaboração legislativa em nosso país. Nosso processo legislativo já possui alguns mecanismos de participação popular, como as audiências e consultas públicas. É hora, no entanto, de dar um passo adiante. E a Internet é a ferramenta para permitir que a participação esteja ao alcance de cada cidadão". Nada mais "wiki".

A formulação do marco civil vem ocorrendo através de duas fases. Na primeira, houve uma discussão a partir do texto-base produzido pelo Ministério da Justiça, onde os usuários do portal www.culturadigital.br/marcocivil inseriram seus comentários, além de retificar, concordar ou rejeitar tanto o texto quanto o que foi postado por outras pessoas. A criação já está na segunda fase do debate público desde o dia 08 de Abril "nesta fase, a discussão terá por base a minuta preliminar de anteprojeto de lei elaborada pela equipe do Ministério da Justiça, em parceria com o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas-RJ, a partir das contribuições recebidas na primeira fase". No decorrer do mês, a sociedade irá mais uma vez ter a oportunidade de colaborar para a criação das regras propostas para a regulamentação da internet no Brasil. Em seguida, uma nova versão já com o resultado dessa fase deverá ser enviado até o final de junho ao Congresso Nacional.


Espera-se que com o sucesso desta iniciativa esta nova forma de trabalhar coletivamente possa migrar para novos projetos de forma igualmente colaborativa, pois nesta experiência o cidadão está tendo a oportunidade de agir diretamente em algo que afetará em todas as esferas da vida moderna, fazendo valer seus direitos no sentido mais democrático possível.


Serviço:


www.culturadigital.br/marcocivil

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Abertas as inscrições para o FLISOL 2010



Fábio Carvalho

Estão abertas as inscrições para o Festival Latino Americano de Instalação de Software Livre (FLISOL) 2010, um evento que vem sendo realizado desde 2005, simultaneamente, em diversos países da América Latina com a intenção de promover o uso de softwares livres e a integração entre os usuários.

No Brasil o FLISOL também irá ocorrer no sábado, 24 de Abril de 2010 à partir das 09:00 hs, com previsão até às 17:00 horas. Além do DF, 45 cidades brasileiras estarão participando. O Acre não teve participação oficial em nenhuma das edições do evento, mas segundo um dos coordenadores, Felipe Augusto Van de Wie em 2009 houve um contato e também cadastro no wiki "eles se inscreveram mas eu não poderia dizer com 100% de certeza, as cidades não são obrigadas a usar o wiki do FLISOL para coordenarem suas atividades, então o Acre poderia ter participado sem que eu soubesse ou sem registro histórico no wiki do FLISOL". No entanto, ele aponta também a possibilidade de o estado participar de edições futuras do festival, bastando um processo simples para isso, basicamente "organizar o evento na sua cidade. Nós pedimos que os coordenadores da sede se inscrevam na lista flisol-br e cadastrem os dados da sede no wiki".

No FLISOL serão oferecidos minicursos, palestras e ainda instalação gratuita de aplicativos e softwares livres independente do sistema operacional utilizado. Caso deseje, o participante pode gratuitamente sair com seu computador com o Gnu/Linux instalado e configurado. As inscrições para palestrantes e instrutores destes minicursos se encerraram oficialmente dia 10 de Abril de 2010, mas o público ainda pode se inscrever no site do evento. A participação será totalmente gratuita e certificada.

Em 2009 a FLISOL obteve 3.333 visitantes, 137 palestras, 29 workshops, 180 instalações, além de centenas de softwares livres distribuídos e instalados e 1.391 CDs. As estatísticas anteriores não foram divulgadas, mas espera-se para 2010 números ainda maiores. Números que aliás colaboram para a tão comentada e necessária inclusão. Segundo Felipe Augusto "A inclusão digital é um processo que requer um acompanhamento de médio/longo prazo. O FLISOL pode ser uma oportunidade para catalisar este processo e ajudar as pessoas a estarem em contato com a comunidade de software e com os softwares propriamente ditos", finaliza

Serviço:


segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Paradigma Educacional Emergente

O paradigma educacional emergente é na verdade parte da tese de doutorado da autora Maria Cândida Moraes, apresentada à PUC de São Paulo, posteriormente transformada livro de mesmo nome, lançado originalmente em 1997 e que recebeu 11 edições, sendo a última de 2005.

Nesta resenha o será analisado apenas o capítulo que leva o nome do livro. O enfoque é centralizado na visão de uma nova realidade educacional, longe dos desencantos e mazelas do sistema tradicional de ensino e aprendizagem através de uma evolução gradativa. A autora apresenta já nos primeiros parágrafos perguntas pertinentes, como “(...) neste mundo globalizado, mutante e interdependente, será mesmo possível reencantar a educação?” ou “Por quanto tempo ainda vamos continuar privilegiando a memorização, a cópia e a repetição?”

Moraes apresenta o problema em sua contextualização, onde fica claro que a educação nos moldes atuais é um grande problema devido a seus métodos ineficazes e ultrapassados. Entretanto, salienta a entrada dos novos meios teconólicos que ao mesmo tempo avança sobre o campo educacional, enfocando a necessidade de se manter atualizado com as novas possibilidades que este avanço oferece ao mesmo tempo em que atua como ferramenta para exercer o domínio do pensamento crítico e do pensar em substituição ao simples decorar.

“De certa forma, é um modelo educativo que continua confundindo obediência com subserviência, abandono como incentivo à autonomia, que valoriza o silêncio, a falta de imaginação e a cópia, e que continua punindo os “erros” e as tentativas de liberdade de expressão”

Para não só explicar, mas também contribuir esta mudança, Moraes busca o que ela chama de novos referenciais epistemológicos, buscando também em estudiosos como Edgar Morin, Varela, Thompson e Rosch o apoio para seu discurso, como ela mesmo admite em seu texto

“(...) esta nova visão teórica, construída a partir do Pensamento Complexo de Edgar Morin, das implicações epistemológicas da Física Quântica e da Teoria Autopoiética de Maturana e Varela na educação, traz consigo algumas conseqüências importantes para o campo do conhecimento e para as ciências sociais em geral, e para a educação, em particular”

A partir de então termos complexos como autopoiético, atitudinais, transcendência, interconectividade, complexidade, intersubjetividade e interatividade vão formando progressivamente o que a autora define como “seus pressupostos teóricos e epistemológicos deste novo paradigma”. Outros pressupostos importantes prontamente abordados são a inter e a transdiciplinaridade “que regem a produção do conhecimento, a aprendizagem e o desenvolvimento da pesquisa”.

Segundo Moraes há inúmeras implicações pedagógicas e metodológicas a partir destes conceitos, e uma das mais importantes “é o reconhecimento de que conhecimento e aprendizagem pertencem ao domínio das relações do organismo com o seu meio e não somente a um dos dois separadamente”. Para Moraes,

“é preciso que a escola, as instituições e as pessoas que dela fazem parte estejam se relacionando constantemente com o meio no qual está inserida, além de possuir uma capacidade intrínseca de se auto-organizar sempre que necessário, uma capacidade interna de auto-regeneração sempre que for preciso. Para tanto, a escola necessita estar em contínua mudança estrutural, adaptando-se ativamente com o que lhe acontece ao redor. Tudo isto pressupõe flexibilidade estrutural e capacidade de renovação constante”

Assim a realidade não é estática, ela é construída e reconstruída de acordo com estas relações e o aprendiz está constantemente em autotransformação, tanto pela influência cultural quanto biológica de seu meio, sendo ainda não apenas a causa de sua mudança, mas também o causante.

Ao terminar de ler o texto em questão enquanto comparamos com o sistema educacional vigente, não há como não sentir uma ponta de pessimismo, ou talvez uma inesperada invasão de um sentimento utópico, mas neste ponto faz-se necessário lembrar que toda mudança depende de um longo debate e de muita resistência da parcela conservadora, que vê nestas novas visões a possibilidade de rompimento do comodismo que impera nesta parcela. Que aliás, muitas vezes se favorece do sistema vigente que não faz pensar, mas apenas alavanca estatísticas.

Bibliografia:

MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 1997.

LIMA, Márcio Rogério de. Revista Extra-Classe • N2 - V1 • Janeiro 2009

quinta-feira, 1 de abril de 2010

(...)

“Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas
Que já têm a forma do nosso corpo…
E esquecer os nossos caminhos
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
à margem de nós mesmos.”

(Fernando Pessoa)