segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Paradigma Educacional Emergente

O paradigma educacional emergente é na verdade parte da tese de doutorado da autora Maria Cândida Moraes, apresentada à PUC de São Paulo, posteriormente transformada livro de mesmo nome, lançado originalmente em 1997 e que recebeu 11 edições, sendo a última de 2005.

Nesta resenha o será analisado apenas o capítulo que leva o nome do livro. O enfoque é centralizado na visão de uma nova realidade educacional, longe dos desencantos e mazelas do sistema tradicional de ensino e aprendizagem através de uma evolução gradativa. A autora apresenta já nos primeiros parágrafos perguntas pertinentes, como “(...) neste mundo globalizado, mutante e interdependente, será mesmo possível reencantar a educação?” ou “Por quanto tempo ainda vamos continuar privilegiando a memorização, a cópia e a repetição?”

Moraes apresenta o problema em sua contextualização, onde fica claro que a educação nos moldes atuais é um grande problema devido a seus métodos ineficazes e ultrapassados. Entretanto, salienta a entrada dos novos meios teconólicos que ao mesmo tempo avança sobre o campo educacional, enfocando a necessidade de se manter atualizado com as novas possibilidades que este avanço oferece ao mesmo tempo em que atua como ferramenta para exercer o domínio do pensamento crítico e do pensar em substituição ao simples decorar.

“De certa forma, é um modelo educativo que continua confundindo obediência com subserviência, abandono como incentivo à autonomia, que valoriza o silêncio, a falta de imaginação e a cópia, e que continua punindo os “erros” e as tentativas de liberdade de expressão”

Para não só explicar, mas também contribuir esta mudança, Moraes busca o que ela chama de novos referenciais epistemológicos, buscando também em estudiosos como Edgar Morin, Varela, Thompson e Rosch o apoio para seu discurso, como ela mesmo admite em seu texto

“(...) esta nova visão teórica, construída a partir do Pensamento Complexo de Edgar Morin, das implicações epistemológicas da Física Quântica e da Teoria Autopoiética de Maturana e Varela na educação, traz consigo algumas conseqüências importantes para o campo do conhecimento e para as ciências sociais em geral, e para a educação, em particular”

A partir de então termos complexos como autopoiético, atitudinais, transcendência, interconectividade, complexidade, intersubjetividade e interatividade vão formando progressivamente o que a autora define como “seus pressupostos teóricos e epistemológicos deste novo paradigma”. Outros pressupostos importantes prontamente abordados são a inter e a transdiciplinaridade “que regem a produção do conhecimento, a aprendizagem e o desenvolvimento da pesquisa”.

Segundo Moraes há inúmeras implicações pedagógicas e metodológicas a partir destes conceitos, e uma das mais importantes “é o reconhecimento de que conhecimento e aprendizagem pertencem ao domínio das relações do organismo com o seu meio e não somente a um dos dois separadamente”. Para Moraes,

“é preciso que a escola, as instituições e as pessoas que dela fazem parte estejam se relacionando constantemente com o meio no qual está inserida, além de possuir uma capacidade intrínseca de se auto-organizar sempre que necessário, uma capacidade interna de auto-regeneração sempre que for preciso. Para tanto, a escola necessita estar em contínua mudança estrutural, adaptando-se ativamente com o que lhe acontece ao redor. Tudo isto pressupõe flexibilidade estrutural e capacidade de renovação constante”

Assim a realidade não é estática, ela é construída e reconstruída de acordo com estas relações e o aprendiz está constantemente em autotransformação, tanto pela influência cultural quanto biológica de seu meio, sendo ainda não apenas a causa de sua mudança, mas também o causante.

Ao terminar de ler o texto em questão enquanto comparamos com o sistema educacional vigente, não há como não sentir uma ponta de pessimismo, ou talvez uma inesperada invasão de um sentimento utópico, mas neste ponto faz-se necessário lembrar que toda mudança depende de um longo debate e de muita resistência da parcela conservadora, que vê nestas novas visões a possibilidade de rompimento do comodismo que impera nesta parcela. Que aliás, muitas vezes se favorece do sistema vigente que não faz pensar, mas apenas alavanca estatísticas.

Bibliografia:

MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 1997.

LIMA, Márcio Rogério de. Revista Extra-Classe • N2 - V1 • Janeiro 2009

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