terça-feira, 6 de julho de 2010

Idéias de Grotowski


Grotowski é uma referência muito grande para o teatro, pois ele utiliza em seus estudos a base de muitos outros estudiosos, principalmente Stanislávski. Mas ele bebe em outras fontes de igual importância, tais como Merheiold, os teatros orientais, como o Japonês e sobretudo o Chinês, com a Opera de Pequim.

À primeira vista, todo este ecletismo de Grotowski pode causar uma idéia errônea de que ele trabalha com retalhos, pequenas idéias de um e de outro. Afinal muita gente trabalha assim hoje, tanto no teatro quanto em outras áreas, quando alguém pega as idéias principais de grandes estudiosos (gênios me parece uma palavra preconceituosa e preguiçosa) e se apropria das principais, em um apanhado sem sentido e sem ligação coerente entre umas e outras. Mas basta uma pequena olhada mais aprofundada para verificar que Grotowski não se enquadra neste caso, pois sua pesquisa vai sim em busca do que outros fizeram, mas apenas como referência (quem não as têm?), como base de algo mais a fundo que ele irá tentar desenvolver ainda mais, e a partir daí com suas próprias idéias e resoluções distintas das de seus influenciadores. Sua teoria é a de que o ator é o centro do espetáculo. E que este deve ser construído não sobre a perspectiva do público, mas da do ator. Ele é também simplista, abdica de todos os exageros, sejam nos apetrechos, nas vestimentas, no cenário ou no figurino. Para Grotowski tudo isso é descartável, o essencial é aquilo que ele chamou de teatro pobre. Teatro Rico segundo ele é o teatro rico, em defeitos. O teatro que exagera em tudo quando se pode ser simples. Para quê máscaras e maquiagem quando é a expressão do ator o mais importante? Para que cenários pomposos se é preciso apenas um detalhe? Para que luzes fortes e piscantes se ele precisa de uma penumbra e do efeito que ela causará? Para quê uma sinfonia escondida do público quando os atores poderiam estar cantando um pequeno trecho de música com efeito mais imediato e diretamente ligado ao espetáculo? Vamos abandonar tudo que não é preciso e nos focar no mais importante, o ator, a emoção que vem dele e a capacidade de tornar seu corpo e sua alma aquilo que o palco precisa realmente.

Grotowski é muito simples de se entender, bem mais que seus companheiros de tablado e talvez por esta simplicidade me pareça o mais (até o momento) sábio. Utiliza o que é necessário, não importa a corrente, o rótulo, estilo ou filosofia teatral, mas não abre mão daquilo que na verdade importa, o ator e a relação entre este e o público. O ator não é o intermediário entre tudo? Se ele falha tudo mais falha, daí a minha convicção de que a base proposta por Grotowski seja mais válida, completa e sábia que de seus companheiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário