segunda-feira, 19 de julho de 2010

O ensino das Artes Visuais

O ensino das artes visuais na escola está passando por um estágio de definição. Já sofreu inúmeras mudanças desde suas raízes no academicismo europeu, mas sobretudo, após o século XIX e no início do séculoXX, quando a idéia dominante era de que a arte deveria se estendida à todas as classes sociais, embora com finalidades voltadas ao trabalho. Entretanto, este processo ainda não conseguiu estabelecer sua fórmula ideal, que seja aceita pela maior parte dos educadores ao mesmo tempo em que consiga cumprir todos seus objetivos educacionais, talvez, por em estar em constante evolução. De acordo com ASLAN “Em cada época e lugar, um conjunto complexo de intenções, teorias, práticas e valores afetam as tendências pedagógicas”

Desta forma a pretensão deste trabalho não é apontar qual o melhor sistema de ensino ou a melhor escola, mas apenas analisar de modo genérico, sem apontar uma época ou sistema específico de ensino de arte a forma como a arte está sendo ensinada hoje na maioria das escolas e qual é o foco deste ensino. Muitas vezes tido apenas como um “ensinar a copiar desenhos”, o ensino das Artes Visuais sofre com a falta de visão de muitos coordenadores pedagógicos, professores e alunos que não conseguem enxergar nos objetivos do ensino das Artes Visuais uma ferramenta capaz de ir além do brincar de arte. Se por um lado os objetivos desta disciplina caminham entre fomentar o conhecimento, desenvolver o senso crítico, a sensibilidade artística e o conhecimento teórico que embasa tudo isso, na prática o que vemos são alunos desinteressados e professores despreparados para fazer cumprir estes objetivos.

“a educação crítica e performativa sobre a cultura visual é muito mais que uma celebração dos prazeres dos aprendizes” Hernández (2007 pág 70).

Isso significa que se esquecendo dos objetivos do ensino e assumindo uma posição passiva e despreparada o arte-educador se limita a oferecer aos alunos apenas exercícios superficiais, embasados apenas no fato de que irá entretê-los, deixá-los “fazendo alguma coisa” agradável para assim criar a ilusão de que gostam de arte (ou no caso, ao menos da aula). Ele aponta que é muito mais válido “propor algo que os incomode e desafie, colocando em circulação diferentes saberes e provocando o envolvimento dos sujeitos” (pág 82). Note-se ainda que Hernández utilize o termo cultura-visual. Neste trabalho não se pretende entrar nesta questão etimológica, por isso consideremos apenas que todos os termos ligados às Artes Visuais que porventura sejam utilizados são referências ao ensino de Artes.
“Para nós, arte/educação ou ensino de artesvisuais é entendida de modo genérico como qualquer prática de ensino e aprendizagem em artes visuais e visualidade, em qualquer relação de tempo e espaço (DIAS, Pág 05)”

Esta postura de passividade demonstra a falta de qualquer método no ensino de Artes Visuais. Cria-se uma sensação de que nada se aprende realmente, uma situação tão ruim quanto a escolha de uma metodologia equivocada, que acabe privilegiando culturas hegemônicas ou mesmo determinados alunos em relação à outros, o que também ocorre com freqüência. Segundo Donald Schon

“os bons profissionais utilizam um conjunto de processos que não dependem da lógica, da racionalidade técnica, mas sim, são manifestações de sagacidade, intuição e sensibilidade artística” (O saber fazer-docente, 2002)

Desta forma, fica evidente que o bom ensino depende de um tênue equilíbrio entre teoria e prática. Se por um lado, há passividade e a carência de método, por outro há o método mal aplicado e o tecnicismo. Para encontrar o equilíbrio nesta equação, o professor deve planejar, seu método de ensino embasado em objetivos claros e definidos. A intuição, sagacidade e sensibilidade artística citadas por Schon são as ferramentas que darão equilíbrio à esta composição. Se utilizadas em demasia, afastam-se do método e não alcançam seu objetivo. Se não utilizadas, causam um aprendizado mecânico, frio e amarrado, que não consegue envolver e tampouco chega aos objetivos desejados.

Mas também é evidente que o ensino precisa estar embasado em objetivos bem definidos, que sirvam como a bússola do processo, afinal, todo o processo metodológico e tudo que o professor propõe em sala de aula é para fazer cumprir determinado fim. Sem a bússola o navegador se perde na vastidão do oceano, onde as possibilidades são muitas podem afastar cada vez do objetivo pretendido. Navegadores mais experientes podem até esquecer este instrumento e se guiar pelas estrelas, mas na maioria das vezes a chegada se dará de forma mais dificultosa e nem sempre sem avarias. O segredo é planejar,

“Para tal empreendimento, o professor realiza passos que se complementam e se interpenetram na ação didático-pedagógica. Decidir, prever, selecionar, escolher, organizar, refazer, redimensionar, refletir sobre o processo antes, durante e depois da ação concluída” (LEAL, Pág 02).

Mas o cenário apontado anteriormente é um retrato de como se encontra o ensino de Artes Visuais como um todo, não avalia e não tem a pretensão de abranger a todos os profissionais, pois é nítido também que já existe uma mudança nestes paradigmas, e não só os profissionais começam a se adequar à esta nova realidade de ensino, o fazem também as instituições e os governantes. Segundo ASLAN, os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) surgidos à partir de 1990 começam a contribuir para uma nova visão para o ensino da arte “porque não são uma metodologia nem uma proposta de currículo, e sim um conjunto de princípios que reorientam a visão do ensino de arte” .




Referências

ARSLAN, Luciana Mourão e IAVELBERG, Rosa. O Ensino de Arte no início do século XXI. 2006. Thomson Learning.

HERNANDÉS, Fernando. Catadores da Cultura Visual: transformando fragmentos em nova narrativa educacional. 2007. Editora Mediação.

LEAL, Regina. Planejamento de Ensino: peculiaridades significativas. Universidade de Fortaleza.

DIAS, Belidson. Escritos Essenciais, Unidade 3. UNB-UAB

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