sábado, 3 de julho de 2010

Meyerhold


A grande divergência entre a visão de Stanislávski e Meyerhold recai sobre a pomposidade do teatro naturalista e seus exageros “uma tradição de ‘grande espetáculo’, que oferecia ao público pagante um desfile de excessos – multidões, canhões, maquinário cênico, épocas passadas com todos apetrechos e quinquilharias (ROUBINE 1998:121)”, uma herança da “Gesamtkunstwerk”, idéia wagneriana do controle total sobre a produção, que buscava o controle total da audiovisualidade do espetáculo herdada por Stanislávski, ao qual Meyerhold se opôs tenazmente.

Enquanto Meyerhold buscava criar o que chamou de estados de alma “em cada um desses fenômenos artísticos, elementos que pudessem criar uma correspondência entre a teatralidade e as exigências ideológicas e psicológicas do texto (CHAVES, PÁG 31)”, Stanislávski era propenso ao naturalismo, queria expressar estes mesmos fenômenos artísticos através do máximo possível de detalhes, o que “era um desafio para o naturalismo e para Stanislavski”, . Esta questão foi tão forte que o próprio Meyerhold a deixava explícita nas trocas de correspondências com atores e diretores da época, como nesta carta à Dânthenko se referindo à Stanislávski.

“o diretor usa o mesmo método de direção que ele trabalhou anos atrás e que o tem guiado, quer seja uma peça de atmosfera e idéias, quer seja algo espetacular. Tenho que provar que isso está errado?”

Entretanto, nada disso significa que Meyerhold esteja certo e Stanislávski esteja errado, ou que existisse entre eles uma rivalidade cega. Meyerhold achava por exemplo que Stanislavski era excelente no papel de Levborg e chegou a citar sua natureza teatral de forma sublinhada em artigo. O que ocorreu na verdade foi que ambos foram visionários em diferentes perspectivas e ambos contribuíram para a evolução do teatro. Meyerhold tendo como base o trabalho de Stanislávski pode dar mais um passo e rever aquilo que funcionava ou não.

Referências:
CHAVES, Yeda, Meyerhold na contemporaneidade
Meyerhold: A materialidade do teatro
V.Meyerhold, O teatro naturalista e o teatro de estados de alma.
Stanislavsky: O encontro com Tchecov

Nenhum comentário:

Postar um comentário