terça-feira, 29 de junho de 2010

Arte e Academicismo

Embora muitos atribuam certa contemporaneidade às divergências existentes sobre os conceitos e nomenclaturas relacionados à arte e ao estudo e ensino da arte, basta um olhar um pouco mais aprofundado na questão para certificar-se que este debate existe desde os primórdios da arte-educação com as chamadas Academias.

O sentido de cada termo relacionado às artes em geral foi mudando de acordo com a época, escola e inclusive interesses. O próprio termo academia é segundo Wick, criado para diferenciar o ensino elitizado das oficinas das corporações. Há na tentativa de se nomear a arte uma tentativa de organizar, estabelecer critérios que tornem possível uma compreensão mais abrangente da arte. Entretanto, estando sujeitos à visões pessoais estes critérios vêm sendo alterados ao longo do tempo e ainda não foi encontrado um termo que seja suficientemente abrangente ou que agrade a todos. Mas é importante notar que desde seu início, estas definições vêm se amparando em conceitos aristocráticos e academicistas, “As academias eram também importantes instrumentos de afirmação social diferenciando os artistas com um nível melhor, tanto material quanto cultural, dos artesãos mais pobres e incultos (Osinky, Pág 35)”. As academias se embrenharam decisivamente como hegemônicas no mundo da arte ocidental, quando “Construiu-se então, sobre este cânone, uma metodologia estrita, a qual com maiores ou menores variações atravessou os séculos (Osinky, Pág 39”, sendo de uma influência tão grande que até hoje se faz sentir. A arte, como propulsora de novas idéias e de formas distintas de ver o mundo e retratar a realidade não pode se estagnar. Por isso é inevitável que mesmo em escolas dominantes surjam discordâncias.

Há na arte um ciclo que faz as idéias de cada conceito irem e virem. Ontem, Classissimo, Hoje NeoClassissimo, a arte funciona assim, entre um termo clássico e outro moderno inspirado nele há sempre uma junção criada por um antecessor opositor à eles, e assim a engrenagem da arte vai girando. Se esta característica se faz notar facilmente nas escolas artísticas (estilos), não a percebemos tão claramente nas escolas de ensino, Artes Visuais, Cultura Visual, Educação Artistica, o que difere estes termos? Para Dias “Se posteriormente aconteceram outras transformações espaciais, surgiram novas ideias e nomenclaturas, é importante ressaltar que o sistema de ideias, por meio da ideologia, teologia, entre outros, registra tudo, mas modifica-se vagarosamente (pág 04)”, ou seja, se pararmos para avaliar, esta linha divisória existente de forma tão mais clara nos períodos artísticos não é tão distinguível no ensino de arte. Muitas vezes, as mudanças são bem subjetivas, outras são grandes mas não representam mudanças de paradigmas, apenas de dinâmica.


Na maioria das vezes estas mudanças de termos seguem um objetivo mais político e de jogos de interesses que da necessidade de se ensinar melhor. Outras vezes apenas absorvemos metodologias ou conceitos específicos por absorvermos e retratarmos a cultura hegemônica em detrimento da nossa “A visão de mundo europeu é subjugada à visão de mundo Norte Americano, e a nossa acriticamente permanece subjugada às duas (Dias, Pág 08).”

O surgimento de novos termos ou o ressurgimento de antigos é parte de um importante processo de evolução, às vezes agregado a significativas mudanças, outras nem tanto. Em certas ocasiões alterado apenas para atender interesses, em outras por não mais retratar a realidade à qual se refere. O importante é que independente do termo utilizado se conserve a essência, o bom ensino de arte. E se nos concentramos em buscar em cada conceito o melhor que nos é oferecido não nos importará tanto qual é o melhor já que todos, a bem da verdade estão fadados ao envelhecimento.


Referências:


DIAS, Belidson, Escritos Essenciais, Unidade 2, UAB-UNB

OSINSKI, Dulce. As Academias e o Surgimento do Neoclassicismo. In:. Arte, História e Ensino Uma Trajetória. São Paulo: Cortez Editora v.79. 2002 (Questões da

Nossa Época ).p. 3143.


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