quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Número de estudantes de cursos à distância cresce no Brasil

Educação distanciada proporciona ao aluno a autonomia de estudar conforme seu próprio tempo

José Franco e Fábio Carvalho*

Os números não mentem. Enquanto o crescimento das universidades presenciais brasileiras está estagnado, o número de cursos, universidades e novas matrículas da educação à distância (EaD) vem crescendo a cada ano.
De acordo com a Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), em janeiro, o número de cursos EaD no Brasil deu um salto de 649, em 2008, para 844 no ano seguinte, pouco mais que o dobro do crescimento dos cursos presenciais no mesmo período. Em relação ao número de alunos houve um crescimento ainda mais expressivo, indo de 727.96l em 2008 para 838.125 em 2009. Hoje já são, de acordo com o Ministério da Educação (MEC), 973 mil estudantes.

Estes dados explicam as incursões do governo no EaD, como é o caso da Universidade Aberta do Brasil (UAB), instituída em 2006. A UAB está presente em todos os estados brasileiros, através de parcerias com diferentes universidades. No Acre são oito pólos, com cursos realizados através da Universidade de Brasília (Unb) e da Fundação Oswaldo Cruz.


UAB no Acre 

O artista Mardilson Torres Machado cursa
Artes Visuais pela EaD.
No Acre, o sistema UAB é utilizado para viabilizar a formação de professores pela Universidade de Brasília (UnB) desde 2007, com formação para as áreas de teatro, Artes Visuais e Música, e em 2010, foi incorporado Administração Pública à grade de cursos da UnB no estado. De acordo com o CAPES /MEC, só na UAB, foram ofertadas até o momento, 1183 vagas pelo sistema, distribuídas entre os pólos do estado. A Universidade Federal do Acre (Ufac), desde 2009 está se integrando ao sistema UAB.

O aluno Mardilson Machado Torres, do Bujari, estudante do sexto semestre em Artes Visuais na UnB, diz que tem uma vida muito corrida, pois trabalha como pintor e desenhista, além de fazer também, um curso de Artes Visuais na Usina de Artes João Donato. “Não sei se conseguiria concluir um curso superior se não fosse pelo EaD”, diz. “Na UAB eu posso estudar de acordo com o meu tempo, sem precisar sair todo dia do Bujari e ir para Rio Branco”.

Para Mayara Montenegro, que cursa o sexto período de ciências sociais, na Ufac, e Artes Visuais na UnB, via EaD, a maior vantagem do sistema é que muitas pessoas que não tem disponibilidade de tempo podem acessar e fazer um curso semi-presencial. A estudante aponta a EaD como alternativa devido aos problemas enfrentados pelos cursos presenciais. “As universidades públicas estão sucateadas e o ensino das faculdades pagas constantemente é criticado”.


Desconfiança e Desvantagens

Para Vilmara Lopes o sistema de
ensino não é o mais importante, mas
o interesse do aluno em se superar
Na mesma proporção em que cresce o número de pessoas cursando universidades à distância, cresce também aqueles que veem este crescimento com desconfiança, ou mesmo descrédito. Muitas vezes os alunos recebem a acusação de que são cursos fracos, que não exigem muito e por isso acabam oferecendo uma formação ruim.

A aluna do oitavo período de pedagogia da Ufac, Vilmara Lopes, cita ter presenciado alunos do EaD perderem oportunidades de bolsas de estudos simplesmente por serem deste sistema. “Eu mesma era contra o Ensino à distância, mas depois mudei de opinião”. A estudante diz que o EaD pode possuir falhas, mas entende que o esforço é do aluno. “Depende do próprio aluno que está recebendo essa educação, eu posso fazer um curso presencial e não ter nenhum interesse”.   

O professor da Universidade Federal Pampa (Unipampa), Marco Bonito, também acredita que a maior vantagem da modalidade à distância seja poder levar aos diversos pontos do país educação de qualidade, que muitas vezes seria inviável por questões relacionadas à distância. “Creio que a EaD ainda careça de uma maior vigilância por parte do MEC já que muitas instituições se aproveitaram da demanda para criar cursos sem a estrutura adequada e estão oferecendo EaD de baixa qualidade o que não vai contribuir em nada para o avanço do país”, aponta.

Marco Bonito também chama atenção para outro detalhe, já que não pode ser usado como uma solução para diminuição de custos com a educação, “O que as escolas e universidades, principalmente as particulares mal-intencionadas, estão fazendo é usar o EaD para ao invés de ter 50 professores dando as disciplinas em 50 salas diferentes, passe a ter um professor dando aulas pra 50 salas diferentes. Isso é o absurdo dessa história”, finaliza. 
 

*Matéria originalmente publicada para o jornal Laboratório "A Catraia", da Universidade Federal do Acre.

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