quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Questões sobre a multiculturalidade da arte e nos museus

O grande problema dos museus é que eles ignoram as diversas formas de expressão artística e colocam seu interesse apenas na arte realizada e, principalmente, comercializada pelas elites, como se a arte estivesse restrita apenas ao academicismo.

A arte, os artistas e, sobretudo, os museus precisam da visão antropológica, pois a antropologia funciona como uma lente de óculos, ajudando a clarear nosso olhar para as diversas formas artísticas existentes. A antropologia não apenas mostra outras culturas e seus produtos culturais, mas ajuda a compreender as diferenças e aceitar como riqueza a diversidade.

Como os museus, em sua grande maioria, ignoram a arte popular, a arte das ruas e novos artistas, deixando de criar exposições que correspondam à esta demanda e expondo apenas aquilo que é interesse das elites, oficializam a arte como o quer os poderosos, que vivem do comércio e da exploração de quadros e coleções, tornando-a moeda. O problema é que quem dita as regras do que vale ou não neste mercado de leilões e coleções milionárias não são os museus, mas os colecionadores. Portanto, ao aceitar e incentivar que a arte seja categorizada segundo os ditames desta classe os museus colaboram não para a efervescência da arte, mas para a movimentação financeira, provinda da compra e venda do que as elites consideram arte.

Quando se fala em arte genealógica estamos afirmando que há uma paternidade na obra, sendo possível estabelecer conexões da obra em questão com suas influências, mercado, etc. Já a arte etiológica não possui registros tão claros, não fazem parte de movimentos oficiais e não são parte da cultura hegemônica, sendo na maioria das vezes ignoradas e com fatias mínimas de mercado, mas ainda assim assustando as classes dominantes.

Há nos museus uma estranha política de arte, uma espécie de hierarquia oficial, estabelecendo o que é arte e o que não é, segundo o entendimento de seus dirigentes, que utilizam esta hierarquia para valorizar coleções e manter os movimentos menores nas rédeas e nos ostracismo cultural.

A arte sofre também com uma visão monocultural, como se existisse a minha arte e a arte de outro, cada uma em um determinado negando a possibilidade de coexistência pacífica e a enriquecedora troca, oriunda da diversidade.

Muitas vezes a arte que foge do padrão estabelecido é considerada menor, tanto por críticos quanto por  artistas, e aquilo que é feito fora deste universo preestabelecido é visto com repúdio e desconfiança, tido como excentricidade ou loucura, mas se esquecem que muito do que hoje é aceito já teve seus dias de incompreensão. O artista mais que ninguém deve saber que a arte não deve ser limitadora, e ao mesmo tempo limitada, tem de estar sempre em evolução e isso significa aceitar ou incorporar as mudanças.

Podemos chamar de populismo responsável a atitude de manter em coexistência pacífica e culturalmente enriquecedora a arte das elites com a arte popular, sem aceitar a idéia de uma arte mais verdadeira que a outra.

Esta diversidade obtida pelo viés do pluralismo cultural deve ser inspiração para os artistas, tanto quanto  obrigação dos museus, que devem cruzar os diferentes tipos de códigos, valores e artistas. Não pode expor apenas obras da Renascença por exemplo. Deve-se ter espaço para as outras manifestações artísticas com igual atenção, zelo e valorização.

Hoje o valor da arte é erroneamente definido pelo valor de mercado, da opinião dos críticos e de colecionadores, que muitas vezes não possuem motivação artística, e somente financeira, o que gera uma discrepância imensa daquilo que é daquilo que se aceita como arte.

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