domingo, 13 de fevereiro de 2011

"Homecoming"

    Há muito tempo não me emocionava com Smallville. Eu sei, já estou na casa dos 30... Mas admito... O fato é que até há alguns anos eu assistia o seriado de forma incondicional e passional. Era encantado pela forma que a história clichê do Super-Homem era recontada, onde mais importante que seus poderes eram suas dúvidas e temores. Havia uma identificação muito forte entre minhas histórias mal resolvidas e as do Clark da série, o que na verdade era a razão de seu sucesso entre os adolescentes... Entretanto, mais pela morte de Lex Luthor que pelo meu amadurecimento, acabei me afastando da fervorosidade de fã com relação à série, e fui assistindo, sem sentir a mesma emoção das primeiras temporadas.

    Entretanto, diz-se que a décima temporada de Smallville é a última, e assim meu interesse se renovou. Ignorando algumas coisas posso dizer que estou achando bem legal esta possível "última temporada". Mas um episódio conseguiu a proeza de mexer comigo, como acontecia em todos os episódios das quatro primeiras temporadas, "Homecoming", o quarto episódio. 

   Os diálogos são quase tão bons quanto os antigos e muitas coisas foram propositadamente saudosas, mas não foi só isso que me fisgou. É visível como Clark se tornou um fardo para si mesmo. Ele ficou tão preso ao seu passado que não consegue olhar para as coisas maravilhosas a seu redor, tampouco consegue  pensar em um futuro livre de seus pesares. Neste episódio, tal como Dante, na Divina Comédia, Clark tem um guia, mas que neste caso, o leva pelas profundezas de sua alma, onde está escondido o grande vilão deste episódio, ele mesmo. "Todos dizem que tenho um lado sombrio em mim, mas não sei o que é e nem como mudar isso", diz Clark em determinado momento para seu guia temporal. 

   A partir daí, como na velha história de Natal, onde os espíritos do passado, presente e futuro, mostram ao herói as falhas em sua jornada, Clark é forçado a observar sua vida sob outro ângulo, e é aí que entra a minha identificação com o episódio. No início da série, o que me fisgava era o amor platônico de Clark pelo seu primeiro amor, que assim como o meu estava fadado ao fracasso. Depois, identifiquei-me com seu talento em fazer tudo errado tentando fazer o correto, assim como eu cansei de fazer. E agora, identifiquei-me com a transformação de uma vítima das circunstâncias para o senhor de seu próprio destino, algo muito próximo ao que fiz para poder abandonar as dúvidas que me atormentavam, quando decidi enfrentar meu destino e escrever eu mesmo as linhas que contariam minha história. 

   O primeiro passo foi enfrentar meus demônios interiores, e para isso, precisei realizar também uma jornada  do herói, mas diferente dos estágios apontados por Campbell, precisei apenas entrar em um ônibus, viajar 3.500 Km e obter uma resposta à minhas dúvidas. Ato que me trouxe respostas, mas não paz de espírito. Tampouco forças para abandonar o passado. Em determinada parte de Homecoming é citado que há um momento derradeiro em nossa jornada "Se deseja me salvar, por quê me mostra isto?" pergunta o ainda titubeante Kent, "Porque este foi um momento decisivo para você", responde seu guia. 



   Lembro-me perfeitamente do momento exato em que assumi o controle da minha vida. Observando a cena agora, através da terceira pessoa existente somente através de minha memória, lembro de Hendrix queimando sua guitarra, algo parecido com o ato simbólico que tive... "As trevas são o passado. Você se prende a ele. Insiste nele. Pune a si mesmo e a todos por erros passados", disse o guia à Clark Kent, tentando demonstrar o porque ele ainda não havia se tornado o Super-Homem. 


   Assim como o amargurado Kent, por anos eu guardei dentro de mim uma frustração, uma culpa e uma dose cavalar de auto-punição pelas coisas que teimavam em sair errado. E então, resolvi dar um basta, recomeçar de fato. Percebi que não bastava mudar de endereço, de cidade ou estado, precisava mudar a mim mesmo e assim o fiz. Peguei tudo que me prendia ao passado e queimei. Cartas, cartões, fotos, tudo. Mais que um ato simbólico, este foi um ato ritual, que serviu para marcar uma etapa, delimitar o antes e o depois deste momento. "Estive tão enterrado nos erros de meu passado, tão preocupado com as responsabilidades do futuro, que perdi a noção do presente", conclui Clark, finalmente entendendo.  Coincidência ou não, a partir daí comecei a sentir uma mudança real em mim e em minha vida. Não estava mais preso ao passado, tampouco deixava de viver o presente pensando no aterrador futuro,  "Não há trevas apenas quando se prende ao passado, mas também quando se teme ao futuro", disse o guia. 


Assim como Clark, finalmente estava pronto para ser o "Übermensch" citado por Friedrich Nietzsche... 

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