domingo, 22 de agosto de 2010

Análise do programa “O Show do Tom”


O programa O Show do Tom é exibido pela TV Record aos sábados à noite, com Classificação Livre. Seu maior público é infanto-juvenil, devido a seu teor humorístico e de piadas fáceis, sátiras de humor relacionadas à novelas, celebridades e outros programas de TV. Desta forma segue o manual da prática popular da televisão “exigindo pouco esforço e envolvimento do receptor na recepção de mensagens” (Porto).

Como a maioria dos programas de humor, O Show do Tom apresenta uma visão caricaturada da realidade. Desta forma é comum que negros, crianças, ou “pessoas diferentes” sejam tratadas como inferiores, que idéias como a diversidade sexual sejam representados de forma extremamente estereotipada e preconceituosa e que as mulheres, em sua maioria sejam retratadas de forma insinuantes e provocativas.

“No Brasil, a paisagem televisual transpira sexo, de modo geral apresentado de modo aviltante para a mulher, as minorias, os adolescentes, para a pessoa comum que está na platéia, o telespectador” (Belloni).

Algumas vezes os personagens acabam até servindo para reflexão quando há disposição do telespectador para isso. A empregada doméstica Jarilene, retratada pelo próprio Tom Cavalcanti é um símbolo que pode ser visto apenas como um retrato da simplicidade do povo brasileiro, mas é também uma crítica social “eu poderia estar matando, roubando, me prostituindo, mas estou trabalhando”. Ou, pode ser encarada simplesmente como conformismo; nasceu pobre (ou ignorante) morre pobre e ignorante, sem oportunidades de ascensão social.

"Todos passam por um embelezamento estético, por lima assepsia que interessa também à imagem idealizada pelo povo. Os abismos entre as classes são abreviados. Os confrontos sociais são tratados de forma estereotipada" (Porto, 1993).

Como um programa embasado na visão cristã-ocidental, a maioria de suas mensagens podem ser encaradas como maniqueístas; o bem é o bem e o mal é o mal, não há meio termo. Há sempre uma “verdade abslouta” implícita nas piadas. As maiores vítimas das piadas são os homossexuais. Em todas elas o estereótipo de gazela saltitante é lançado como verdade incontestável. São objeto de riso, mas incutem no imaginário popular uma falsa imagem que os homossexuais são “seres anormais”, e como tal incutem a homofobia como uma qualidade e não um problema a ser questionado. Por se habituar a este comportamento através da observação da TV, o público, em especial as crianças, acabam aceitando a homofobia como algo normal.

“A aprendizagem da criança frente à televisão, porém, tem formas singulares: é essencialmente uma aprendizagem por impregnação, isto é, involuntária, inconsciente, sem querer, sem saber” (Belloni).

Como os assuntos abordados no programa são de cunho popularesco e não exigem nenhum esforço do público para captar as mensagens, não há a intenção de aprofundar quaisquer questionamentos. Basta apresentar a situação caricata e expô-la, para em seguida ir para a próxima situação. Ao fim do programa, pouco, ou quase nada é realmente absorvido de forma positiva, mas o comercialismo sai triunfante, já que entre seus quadros há sempre comerciais, tanto entre os blocos, quando entre uma passagem e outra o próprio apresentador faz o comercial ou nos intervalos comerciais propriamente.
Entretanto devemos lembrar que “A TV é dualista: retrata a vida porque precisa ser inteligível para o público que quer atingir e é guiada pelos interesses da sociedade consumista que ajuda a construir” (Porto). Desta forma, deve haver um esforço continuo da sociedade para que se busque uma elevação no nível dos programas, pois sendo comerciais, sempre atenderão a demanda do povo e este círculo ora vicioso, ora virtuoso sempre irá se embasar nesta dualidade.


Referências:


PORTO, Tânia Maria Esperon. A Televisão na Escola... Afinal que pedagogia é esta? - Capítulo 3: A Mídia Televisica, O Adolescente e A Escola Pública
BELLONI, Maria Luiza. O que é mídia-educação. Capítulo 3: Mídia-Educação / Ética e Estética

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