segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Revelando o sagrado de Christian Boltanski


No mundo ocidental, a Idade Média é conhecida também como a Idade das Trevas, segundo Christian Amalvi (2002, p. 539) o período foi “uma interminável noite que os raios de sol do século XVI enfim dissiparam”, afinal foi durante este período que ocorreram fatos como a peste negra que assolou a Europa, as guerras, as Cruzadas, a Santa Inquisição e sua caça histérica às bruxas, etc. Fatos estes, que mancharam a história da humanidade. Entretanto, esta é uma visão simplificada desta época, foi na idade média que se desenvolveu as primeiras universidades, e nela se desenvolveu também as bases para o próprio Renascimento, que a seguiria, assim como a Reforma, etc.

Tradicionalmente, a idade média é delimitada entre os períodos que compreendem a Alta Idade Média, no séc. V com a desintegração do Império Romano do Ocidente e a Baixa Idade Média, no séc. XV, com a queda de Constantinopla. Além das sub-divisões em Antiga, Plena e Tardia. “A terminologia Medium Tempus (Idade Média) foi cunhada no século XIV por Petrarca e outros humanistas italianos e, posteriormente, a partir do século XVI, desenvolveu-se mais amplamente entre intelectuais alemães e franceses para designar um período que constituiria uma idade intermediária entre a Antigüidade e o futuro que estava à porta, a renascença. Claramente, apesar de já muito difundido e constantemente utilizado, o termo Idade Média carrega em si uma dose de preconceito e desconhecimento perante um magnífico período da história da humanidade (Nunes).”

A arte e da mesma forma o artista medieval foram marcados pela religiosidade da época e pela influência da igreja. Normalmente as pinturas eram voltadas a passagens bíblicas e a ensinamentos de cunho religioso. Eram formas de usar a arte para implantar as idéias religiosas. Na arquitetura a influência da igreja também se fez presente, onde destacou-se a construção das grandes catedrais, igrejas e mosteiros. “Com a conversão de boa parte da Europa ao cristianismo, a partir do século 4, a honorável arte clássica, tida como pagã, foi abandonada com a vitória da nova crença pregada pelos Apóstolos de Jesus (Schilling)”.

Além da Pintura e da Arquitetura, os artistas da Idade Média também se dedicaram com grandes resultados à tapeçaria, esta, se desenvolvendo mais por necessidade que por influência da igreja, já que os castelos, feitos de pedra, necessitavam de grandes tapeçarias que tornassem seu ambiente interno mais aconchegante, quente e confortável. A “mais famosa tapeçaria medieval é o ciclo d' A senhora e o unicórnio. As duas principais manifestações arquitetônicas, principalmente relacionadas à construção de catedrais, foram o estilo românico e mais tarde o gótico. Destaca-se também a formação das corporações de ofícios, reunindo artesãos.(Wikipédia)”. Além disso, estava sendo formado “uma classe de tecelões de altíssima qualidade e também o aparecimento dos alfaiates.” (Lipovetsky,1991).

Como consequência do desenvolvimento artístico da arquitetura, os vitrais também adquiriram um enorme valor artístico e religiosona Idade Média. Mais que simples ornamentação de igrejas e catedrais, eram também objeto de imponência e religiosidade, já que retratavam passagens bíblicas. Os vitrais representavam também um problema para o artista, pois sendo muito pesados, apresentavam com o tempo diversas dificuldades de manutenção. Também depdendente da arquitetura era a pintura parietal, ou seja, executada nas paredes.

Christian Boltanski nasceu em Paris, em 1944, e é considerado um dos maiores artistas de sua geração. Após o seu primeiro livro intitulado Recherche et présentation de tout ce qui reste de mon enfance publicado em 1969, declarou que toda a sua obra se encontrava ali.
Em 1958 começa a pintar, em 1967 abandona sua prática pictórica na pintura e em 1968 as revistas de arte, começa a fazer fotografia em preto e branco, aborda o trágico, o humano.
Em 1969, reúne documentos sobre seu suposto falecimento, batiza a obra de Reconstitution d'un accident qui ne m'est pas encore arrivé et où j'ai trouvé la mort.

A partir da década de 70 começa a dedicar-se aos anônimos, como Album de photos de la famille D e um homem de Oxford (ambos de 1973) e a série Imagens Modelo.
Em 1984, redigiu uma espécie de biografia oficial, para implementar a retrospectiva que lhe dedicou o catálogo do Centro Pompidou. Na década de 80 e 90, Boltanski começa a se dedicar à construção de monumentos à memória das vítimas da guerra e do holocausto.
No início dos anos 2000, cria um conjunto, chamado Coming and Going, que é exposto em Nova Iorque. A obra retoma e expande a idéia criada em 1984, com a série dos Monumentos, uma fotografia, com um novo enquadramento entre lâmpadas acesas.

Em 2001 Christian Boltanski declara a Lynn Gumpert: “Eu sou um pintor extremamente tradicional. Eu trabalho para proporcionar emoções aos espectadores, como todos os artistas. Eu trabalho para fazer rir ou chorar o mundo”.
Boltanski explora o tema da perda de memória, colocando o tema entre uma tênue linha divisora entre o anônimo e o identificável, profano e sagrado, sentimental e trágico, misturando diversos ritos e tradições.

A própria forma em que Christian Boltanski instala suas obras, remete de imediato à Idade Média, já que nos remete à catacumbas e até nos fazem ressentir fisicamente o horror, a relatividade e a subjetividade da historificação. « Ficamos esmagados sob o peso da nossa sociedade, da sua vontade de julgar. E Christian Boltanski está permanentemente a reenviar-nos para a nossa própria realidade pelo intermédio de um espelho (Schraenen) ». Outra grande ligação entre a arte de Boltanski com a idade média é o realismo, pois foi a partir da idade média que este estilo se desenvolveu. «Podemos dizer que há aqui um novo e sutil tipo de realismo. E se for possível uma recolocação desse conceito, deveremos no entanto pensar num realismo que se liberta da questão da mimesis perfeita (Entler).” Este entretanto, é um realismo que pretende não retratar a realidade como ela é, mas uma realidade artística, marcada pelas possibilidades de manipulação e reconstrução da realidade, numa ligação direta com o imaginário de seu autor. “Os novos realistas se conscientizaram de sua singularidade coletiva. Novo Realismo = novas abordagens perceptivas do real. Assinado: Arman, Dufrêne, Hains, Klein, Raysse, Restany, Spoerri, Tinguely e Villeglé". Além disso, a Escolástica é também uma grande inspiração na forma de Boltanski trabalhar e esta atuou em toda a Idade Média com sua religiosidade e fé da mesma forma introspectiva em que são cosntruídos os oratórios de Boltanski.


Referências :


Idade Média :

http://dejavu.lastdesign.com.br/ Acesso : 01/11/2009
http://www.suapesquisa.com/idademedia/ Acesso : 01/11/2009
http://www.historiadomundo.com.br/ Acesso : 01/11/2009
http://anodafrancanobrasil.cultura.gov.br/fr/2009/03/31/entretempos-uma-decada-de-arte-francesa-nas-colecoes-de-video-do-museu-de-arte-moderna-de-paris/ Acesso : 01/11/2009
http://www.assevim.edu.br/agathos/3edicao/silvia.pdf Acesso : 01/11/2009
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2005/07/14/001.htm Acesso : 01/11/2009
http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Média#Arte Acesso : 01/11/2009
Christian Boltanski
http://www.studium.iar.unicamp.br/22/03.html?ppal=2.html Acesso : 01/11/2009
http://cboltanski.blogspot.com/ Acesso : 01/11/2009
http://www.centopeia.net/download/natureza_segunda_da_morte.pdf Acesso : 01/11/2009
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R1089-1.pdf Acesso : 01/11/2009

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