sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A mímesis de Los porongas

Segundo Aristóteles a arte é “a arte da imitação”, ou seja, segundo a filosofia aristotélica a imitação (imitatio, em latim e mímesis do grego) é o fundamento de toda arte, e mais que isso, é também o que nos disntigue dos animais. Sendo assim, como inserimos neste contexto, a banda objeto de trabalho, Los Porongas, que embora toque uma música de diversas influências musico-culturais como Radiohead, Beatles e Chico Buarque, busca justamente um distanciamento dos padrões estabelecidos em prol de uma identidade única? Será possível este intento? Ou não há como se afastar desta mímesis?

Platão, criticou todas as formas de imitação, inclusive as tragédias, por não descreverem realidades idéias eternas, mas por outro lado, dizia na República que a imitação é sobretudo o resultado da inspiração e do entusiasmo do artista frente a natureza das coisas aparentemente reais. O Los Porongas, em seu discurso prime a busca pela originalidade, calcada principalmente no regionalismo acreano, se coloca frente a estas sua aparente realidade, que os inspira a produzir artísticamente, não com o intuito de reproduzir, como Platão desejava da arte, as idéias eternas, mas apenas as idéias reais, do mundo à sua volta, do Acre, da música, de sua época. Neste sentido há dois caminhos a seguir, a mímesis pode se aplicar tanto técnicamente, quanto na recriação do mundo em que o Los Porongas vive. Esta diferenciação é importante para a compreensão real do trabalho desenvolvido e sua importância segundo a proposta própria de arte ou música autoral. No primeiro caso, torna-se algo negativo, que fere inclusive a proposta da banda, no segundo, apenas confirma sua identidade, que é construída aos poucos, no ambiente que os rodeia.

"Em todos os casos, falamos de imitação enquanto forma de representação do mundo e não como uma forma de copiar uma técnica (imitatio, na retórica latina), o que foi prática corrente a partir do Império Romano, sobretudo na imitação da obra de mestres de gerações anteriores (CEIA, Carlos, E-Dicionário de termos literários). "

São Tomás de Aquino não defendia uma visão da arte como imitação, mas para E. H. Gombrich, a história da arte Ocidental é uma procura por interpretações progressivamente mais vívidas da realidade. E neste contexto, podemos situar o Los Porongas.

Retomando os pensadores medievais, em sua definição de arte e imitação, deve-se lembrar que os medievais seguiam a três princípios chave nas suas criações tais como as catedrais de Mestre Chartres: proporção, iluminação, e alegoria. Se atualizados, estes conceitos ainda podem ser aplicados à arte, mesmo a música dos Los Porongas e a luz que incide de forma intencional em seus tubos de laser e telões e simbolicamente, há a luz que ilumina o interior ao passo que o Los Porongas traz em suas letras reflexões e um convite ao agir. A proporção está na construção de suas melodias, rimas e poesia métrica na voz de Diogo Soares no seu mundo ordenado de Demiurgo. E finalmente, a alegoria, presente nas referências à cultura acreana. O próprio Los Porongas é uma alegoria na medida em que representa a luta pela identidade própria em um mundo de cópias de cópias. O grupo, é a personificação do mundo socialista, todos sabem de suas responsabilidades e agem e trabalham como uma só entidade, num só objetivo. Diogo Soares é a personificação do líder, aquele que orienta e abre caminhos para que os outros o acompanhe, mas como bom líder, nega o papel. “Para um filósofo medieval como Aquino, a alegoria era um modo lógico para entender como Deus está presente no mundo. (Freeland, Cynthia, Teoria da Arte, Pág 11)”, para um filósofo contemporâneo como Diogo Soares, a alegoria pode ser um modo lógico para entender como a música está presente no mundo.

Referências:

Freeland, Cynthia, Teoria da Arte, Tradução de Beatriz Magalhães Castro, UNB
CEIA, Carlos, E-Dicionário de termos literários <http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/M/mimesis.htm> Acesso 13/11/2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário