domingo, 29 de novembro de 2009

Los Porongas como representante legítimo da arte como ritual

Segundo Cynthia Freeland, em Teoria da Arte, “atos adquirem significado simbólico por incorporação em um sistema de convicção compartilhado (pág 03)”. Neste contexto, a música, mesmo o rock da banda acreana Los Porongas, pode ser considerada como parte de um ritual, realizado através da convicção compartilhada entre o grupo que se apresenta e o público que o assiste.
Esta reciprocidade que une público e artista no momento do show cria ao mesmo tempo o significado do ato de apresentar-se num palco. Esta idéia se desenvolve no texto quando a autora afirma que a arte como ritual pode ser plausível “desde que a arte possa envolver um grupo de pessoas guiadas por certos objetivos e possa produzir valor simbólico através do uso de cerimônias, gestos, e artefatos. (pág.03)”. Aqui nós temos o cenário amplamente clarificado pela evidência; enquanto os músicos tocam seus acordes nas guitarras distorcidas, o baixo e a bateria fazem uma levada que remete às batidas tribais, comumente citadas nas teorias musicais, onde a e pulsação e repetição dos compassos remete imediatamente à tão necessária repetição nos rituais. Do blues do Mississipi aos ingleses do Led Zeppelin e dos acreanos Los Porongas, a levada contagia, pois o ritmo é a base da música, e da mesma forma, dos rituais presentes em religiões e cultos que fazem da música parte de sua religiosidade, desde o Candomblé e sua cerimônia pública, denominada “Toque” (essencialmente musical) às cerimônias indígenas. O rock do Los Porongas vai além do entretenimento, é um estilo de vida abraçado por seus membros e por seus fãs, o que mais uma vez legitima a arte realizada pelos Porongas como parte de um rito. Segundo antropólogos como Rivière e Terrin, os ritos podem ser definidos como atividade estruturada de “estilos de vida (...) ritualidade e performances capazes de organizar o mundo” (Terrin:2004:402). Estaríamos aqui no âmbito da ritualidade profana que se expressa em estilos de vida da sociedade moderna. Analisando as expressões dos estilos de vida no contexto da sociedade do espetáculo, Terrin argumenta que elas se movem sob a marca de uma “ritualidade sem mitos”.
O Los Porongas é um grupo, mas é fato que seu vocalista, Diogo Soares, mesmo que não queira, é o líder. Ele é principal responsável pelas letras da banda quanto pela “cara” que a banda possui. Mas sua importância no sentido ritual da música vai além, pois “Tanto nas culturas arcaicas quanto nas sociedades modernas, nos rituais há sempre um líder portador do objeto mágico, que representa a mediação entre o profano e o sagrado (Patias)” e sua performance, sua maneira de se portar no palco e forma de cantar funciona como um canal, um maná para a platéia absorver a energia da banda e seu instrumento mágico para isso é o microfone e ele é o xamã que busca levar a platéia do profano ao sagrado.


Referências:

FREELAND, Cynthia, Teoria da Arte, Tradução Castro, beatriz Magalhães, UNB.
PATIAS, Jaime Carlos O sagrado e o profano: do rito religioso ao espetáculo midiático, II Seminário Comunicação na Sociedade do Espetáculo, São Paulo.

3 comentários:

  1. É verdade.
    Ao estar no palco, esses meninos criam uma cumplicidade com o público que é difícil de se ver em outro show.

    Eles são gigantes e vão muito longe.
    E eu vou estar acompanhando e trocendo, sempre.

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  2. cara.. como parte desse publico posso dizer, que é a pura verdade.. energia sem nome, que dá até medo de ser tiete, e um orgulho danado, deles, meus amigos, terem esse encanto, essa magia.. coisa do além...
    "Eles são gigantes e vão muito longe.
    E eu vou estar acompanhando e trocendo, sempre." dois votos!

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