quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Enquanto uns dormem...


Banda de Rio Branco no Acre, a Los Porongas, já em seu nome deixa claro sua pretensão artística, explorar a arte e a cultura local de forma autoral. Los, nos remete imediatamente à latinidade espanhola dos vizinhos Perú e Bolívia e Poronga é um típico objeto de uso dos seringueiros da Amazônia, região d’onde floresce a banda. Deste embate, o Los Porongas bem retrata a luta dos seringueiros brasileiros pelo Acre que foi ignorado pelo governo brasileiro e que pertenceu à Bolívia. Seringueiros, personalidades, cidades e mitos, tudo isso, no cadinho cultural de seu repertório, daí minha escolha pelos Porongas como manifestação artística deste trabalho, pois são musicalmente, um dos melhores exemplos representativo das atividades, expressões e saberes da comunidade e da arte acreana.
Como exemplo desta real manifestação artística, temos as próprias letras das músicas dos Porongas, como em Zumbi e Chico (Lhé) “Zumbi e Chico/Palmares e Xapuri/Seus quilombos, seus empates/Suas guerras de mascates/Seus quilombos, seus empates/Suas guerras de mascates” ou na sabedoria colonha de Vovó Alice “Vovó Alice que fazia pão de milho/Para neto e para filho/Pra tudim se alimentar/Vovó Alice seringal sabedoria/Ela me disse que ir pra lua de São Jorge era tolice”. Outro aspecto que me auxiliou à decisão desta escolha está em Gombrich quando diz que o artista deve buscar a meticulosidade em seu trabalho, a mesma que o Los Porongas aplica em sua música. Outro aspecto relevante sobre o Los Porongas é que através de sua Arte procura aplicar como indicava Paulo Freire, a "Arte como instrumento de transformação social”. Como não há exemplo melhor neste momento de artistas acreanos legítimos, o Los Porongas me pareceu perfeito, mesmo que ainda exista alguém que não os julge fazendo Arte, pois como disse Gombrich “Nada existe realmente a que se possa dar o nome Arte, existem somente artistas”, ou, ainda segundo ele “Não existe maior obstáculo à fruição da arte do que a nossa relutância em descartar hábitos e preconceitos”.
Pretendo com a apresentação desta escolha colocar o preconceito à prova e provar que eles também fazem Arte. E se alguém ainda resitir, lembro o artigo “Mas isso é arte?” de Daniela Sandler: “Arte, como outros termos abstratos e complexos, tem significado contigente e sempre em transformação. Muda o que nós entendemos por arte, mas não só isso: muda tudo. Muda a maneira de produzir arte, mudam os artistas, e muda o produto final. Quando o produto muda, muda também nossa maneira de olhar, perceber e reagir. E, por fim, muda o conceito (...)”. Deve ser hora de mudar a si mesmo.

Bibliografia relacionada:
GOMBRICH, Ernst, História da Arte, Introdução
SANDLER, Daniela, Mas isso é arte? < http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=191#topo> Acesso: 25/10/2009

Internet
Site Los Porongas: < http://www.losporongas.com.br/> Acesso: 25/10/2009
My Space Los Porongas: <http://www.myspace.com/losporongas> Acesso: 25/10/2009
Vídeo: Los Porongas - Enquanto Uns Dormem <http://www.youtube.com/watch?v=nEuTC_TwLdk> Acesso: 25/10/2009

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